Por Sheu Nascimento publicado originalmente em Sister!Blog
O patriarcado é uma estrutura que se sustenta em desigualdades e opressão, se mantém pela manutenção de privilégios concedidos aos homens em detrimento das mulheres. Para que isso fosse possível e perpetuado, o patriarcado adotou métodos para marcar os corpos. Ele reduziu às pessoas à suas genitálias e, a partir disto, uma série de regras foram construídas para controlar estes corpos e determinar hierarquias podendo ser violentamente punidos todxs aquelxs que se distanciam destes ideais. As opressões sofridas pelas mulheres derivam destas construções e hierarquias criadas a partir de uma norma imposta sobre o que são os gêneros e que toma como base um princípio biológico.
A opressão racista também se fundamentou em princípios biológicos para respaldar o racismo. A Ciência foi extremamente usada na perpetuação de ideologias racistas que tentavam reduzir negros e negras ao grau de sub-espécie humana, primitiva, e que parou na escala evolutiva não alcançando o status máximo evolutivo do homem branco europeu.
Essas opressões foram naturalizadas dentro das sociedades e se manifestam nas diversas esferas seja pública ou privada, independente da idade e da condição social. O machismo e o racismo afetam diretamente a dignidade humana das mulheres negras e ocorrem com agraves se levamos em consideração a questão da sexualidade, quando essas mulheres não se enquadram de acordo com os ideais da heteronormatividade compulsória.
Ser mulher negra no patriarcado racista é viver as opressões ditadas sobre o seu gênero e, além destas opressões, vivenciar o racismo como um fator potencializador, o que a coloca na base da pirâmide social como sendo, dentre todxs as pessoas, a mais marginalizada dentro desta estrutura, atrás da mulher branca e do homem negro respectivamente, sendo ao menos vista como mulher. Ser uma feminista negra é vivenciar, em todos os âmbitos de sua vida, estas opressões, é saber que a questão racial está na frente das opressões que sofre, visto que isto influencia nas formas com que o machismo a atinge e, acima de tudo, saber que sua liberdade só virá pela dupla queda obrigatória dos sistemas de opressão racista e machista. Se ainda houver racismo, ainda haverá opressão sobre negras e negros.
E o que pensar se esta mulher for lésbica?l Ser lésbica negra é ter sua identidade sequestrada, apagada, invisibilizada. O patriarcado dita que mulheres negras são animais fêmeas para o consumo masculino e que só existem na heterossexualidade. Quando lésbicas, sua existência é negada. Uma mulher negra lésbica no patriarcado vivencia essas opressões em todos os âmbitos de sua vida e são vistas como uma ameaça pois são altamente subversivas pelo simples fato de existirem – já que isto lhe é negado. Por todos esses motivos elas correm 3 (três) vezes mais riscos e são 3 (três) vezes mais marginalizadas por serem negras, por serem mulheres e por serem lésbicas.
A batalha feminista destas mulheres é pelo acesso a igualdade de direitos e justiça na sociedade em que vivem e, além disso, também poder exercer o direito de poder existir da melhor forma possível e como são: negras lésbicas e diversas. Só a partir da tomada de consciência de que diversas formas de opressões nos atinge de formas diferentes, assim como trabalhá-las dentro de nossas lutas será possível, não só para mulheres negras lésbicas, mas também para toda a diversidade de mulheres, viver num mundo mais justo livre das violências do heteropatriarcado racista.